Fotos: Reprodução / Divulgação

Ana Luisa Bartholo

Criado em 20/10/21

Quatro perguntas para NÃO se fazer a uma mãe por adoção

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Que a adoção é um assunto ainda desconhecido não é novidade. Ao longo dos últimos meses, viemos falando aqui na coluna sobre algumas das peculiaridades das famílias formadas por adoção. Existe muita desinformação e por isso é tão importante se ampliar a discussão sempre que possível. Eu mesma respondo muitas perguntas de conhecidos e estou sempre disponível para tirar dúvidas de quem quer saber mais a fundo sobre o tema.

Entretanto, muitas vezes os questionamentos são colocados de forma despropositada, seja por ignorância, falta de educação ou falta de sensibilidade. Por isso, em solidariedade às mulheres que já se depararam com uma ou várias dessas perguntas, resolvi abordar o assunto. Confira a seguir quatro perguntas que não devem ser feitas a uma mãe por adoção.

  1. Mas você não quer/ quis ter um filho seu antes?
    Pare um segundo para refletir se essa pergunta não traz, nas entrelinhas, bastante preconceito. Fica claro que o termo ‘seu’ está sendo substituído por ‘biológico’. Ou será que quem pergunta acha que o filho por adoção não é nosso? Por isso, caso você tenha curiosidade de saber se a pessoa considerou ter filhos biológicos antes de querer adotar e – IMPORTANTE – tenha intimidade o suficiente, use assim mesmo, ‘filho biológico’, na pergunta. Fica mais genuíno e delicado, além de eliminar qualquer alusão ao preconceito.
  2. Você não pode engravidar?
    Essa pergunta pode ser bastante insensível, em especial se o grau de intimidade que você tem com a mãe que aguarda o seu filho pelos meios da adoção for próximo de zero. Pense no seguinte: você discute a sua intimidade ginecológica com pessoas com quem não tem proximidade? Detalha seus problemas de saúde física ou emocional sem se preocupar com quem esteja ouvindo? Então, talvez faça sentido imaginar que sua interlocutora, uma mulher que está no processo de adoção também não o faria. Além do mais, existem muitas e muitas razões para alguém decidir adotar, inclusive o simples desejo de ampliar a sua família dessa forma. Não necessariamente há qualquer problema de saúde envolvido. Mas mesmo que haja, não é nada delicado fazer essa pergunta ‘na lata’, exceto se você estiver no grupo das duas melhores amigas da mamãe em questão ou, talvez, for um familiar muito próximo.
  3. Você não tem medo de a mãe vir atrás do seu (sua) filho(a)?
    Essa é uma das clássicas, e normalmente traz desconhecimento sobre o processo de adoção associado à falta de empatia. Em primeiro lugar, esclareço que a mãe da criança por adoção é a pessoa a que você está fazendo a pergunta. É o nome dela que consta como ‘mãe’ na certidão de nascimento depois que recebeu a guarda definitiva e solicitou a emissão do novo documento – a versão original torna-se cancelada pela justiça. Talvez você esteja se referindo à genitora da criança, e aí entramos na parte da falta de empatia. O processo de adoção é sim cheio de medos, inseguranças, dúvidas e incertezas, e a questão da família de origem da criança pode ser um tema que gera ansiedade nas famílias. Entretanto, é muito improvável que uma conversa em que essa mãe vai expor os seus medos e falar sobre o assunto se inicie assim, com essa pergunta, principalmente se a sua intimidade com ela for quase nenhuma.
  4. Por que você não alisa o cabelo dela(e)?
    Inacreditavelmente essa não é uma pergunta incomum feita a mães de filhos negros ou pardos. E é difícil saber por onde começar a falar sobre a falta de adequação. É bem provável que por trás dessa ‘inocente’ sugestão haja uma mistura de ‘vamos esquecer de onde ela(e) veio’ e ‘vamos fingir que ela(e) é branca(o)’. Mas alisar o cabelo da criança não vai acabar com o problema principal desse cenário: o preconceito de quem sugeriu. Já falamos em artigos anteriores sobre a importância de genuinamente acolher e aceitar a história pregressa da criança, e nessa aceitação está incluída a etnia, os traços e características físicas. Quem disse que a mãe ou a criança está incomodada com os cabelos como são? Por isso, se você é próximo da família, tem dificuldades de aceitar a criança como ela é e sente que esse preconceito precisa ser superado, é recomendável tratar das suas próprias questões longe dali, sem fazer nenhuma referência a como acha que a criança deveria parecer. Agora, se você não tem nada a ver com essa mãe, falou por falar e chegou até aqui sem saber porque essa pergunta é inadequada, bem, talvez seja começar a ler o artigo do começo.

Você gostaria de sugerir um tema para ser abordado? Escreva para mim em [email protected] sobre a sua sugestão.

Sobre Ana Luisa Bartholo :

É mãe por adoção da Gabriela e biológica da Beatriz. Formada em administração de empresas e com MBA pela Universidade de Chicago, dirige as atividades de marketing de uma instituição inglesa no Brasil. Ana frequentou e atuou como voluntária em grupos de apoio à adoção entre 2013 e 2018, até que em 2019 fundou, com mais quatro amigos, o Grupo Trilhar, que orienta pais e mães por adoção, através de reuniões mensais.

Site: https://falecomgrupotrilha.wixsite.com/grupotrilhar

Telefone: (11) 96601-7004

Sobre Ana Luisa Bartholo :

É mãe por adoção da Gabriela e biológica da Beatriz. Formada em administração de empresas e com MBA pela Universidade de Chicago, dirige as atividades de marketing de uma instituição inglesa no Brasil. Ana frequentou e atuou como voluntária em grupos de apoio à adoção entre 2013 e 2018, até que em 2019 fundou, com mais quatro amigos, o Grupo Trilhar, que orienta pais e mães por adoção, através de reuniões mensais.

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Atenção: Todas as informações são de responsabilidade dos organizadores do evento e estão sujeitas a modificações sem prévio aviso. As informações foram checadas pela equipe de reportagem do São Paulo para Crianças em 20/10/21. Antes de sair de casa, confirme os dados com o destino, para evitar imprevistos

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