Ana Luisa Bartholo
Criado em 28/05/21
Essa pergunta só faz sentido para quem adota bebês e crianças muito pequenas, já que as crianças maiores lembram de suas vidas pregressas. Mas é uma dúvida comumente trazida por aqueles que estão na espera pelo seu filho.
“Como devo contar ao meu filho que foi adotado? Qual a idade adequada para fazer isso?”
Colocando-se a questão a partir dessa perspectiva, de que existe uma forma correta e um momento adequado, trata-se do assunto como se fosse um segredo que ficou escondido e que agora precisa ser revelado.
Embora muito menos comum do que no passado, infelizmente ainda há famílias que ocultam a história da criança, um dia se deparam com algum acontecimento e precisam, de repente, revelar a verdade. Há alguns anos, entrevistei uma coordenadora de ensino fundamental de uma escola num bairro nobre de São Paulo para um projeto ligado à adoção. Ela me contou sobre uma aluna de 12 anos que apresentava todos os tipos de dificuldades sociais e que não conseguia estabelecer vínculos com colegas e professores ao ponto de isso impactar no seu aprendizado.
Ao chamar os pais para uma conversa, a coordenadora se deparou com a informação de que a aluna havia sido adotada ainda bebê, mas que isso nunca havia sido dito a ela, e que a escola estava proibida de tocar no assunto. A família havia decidido que nada seria revelado –essa criança possivelmente viverá atormentada por sentimentos nefastos, sabendo que existe algo ruim ou estranho consigo que ela não sabe.
Em geral, as razões comuns para se esconder um fato são que ele seja ‘feio’, ‘errado’ ou ‘inadequado’. E mesmo com todos os esforços dos pais para esconder a história da criança, um dia um acontecimento fora do controle da família, como por exemplo o comentário de algum conhecido, acaba forçando a revelação. Nesse cenário, as consequências podem ser desastrosas: o que significa para uma criança ou adolescente descobrir que as pessoas em quem ela mais confiava, seus próprios pais, mentiram sobre um assunto tão importante por tanto tempo?
Voltando à pergunta, convido vocês a refletirem sobre a abordagem completamente oposta: a história da criança que foi adotada deve ser contada o tempo todo, desde o primeiro dia em que chegou na família.
Pode parecer estranho pensar em conversar sobre isso com seu bebê, mas o fato é que esse hábito tornará o assunto presente e natural na vida da família. E o melhor: não há uma forma única ou correta: são vários os caminhos e recursos disponíveis. Há muitos livros infantis, desenhos e filmes que tratam do assunto – você pode lê-los ou assisti-los com seu filho e falar sobre o personagem que foi adotado. Alguns abrigos apoiados por instituições como a Fazendo história ajudam a manter fotos e registros das crianças abrigadas que são entregues à nova família quando ela é adotada.
Por que não folhear o álbum com o seu filho desde pequeno ou ler com ele sobre sua história? Ou mesmo deixar o álbum ao alcance dele, para que ele mesmo retome o contato com seu passado, quando desejar? Você também pode contar ou mostrar fotos de como foi o seu tempo de espera, se houve um chá de bebê ou a preparação de um quarto, por exemplo, essas memórias podem – e devem ser narradas. Essas e outras são formas de como você pode falar sobre como ele chegou e como a sua família cresceu.
Aqui faço uma ressalva importante: é fundamental ter tranquilidade e segurança para dizer a seu filho que ele foi adotado – com todas as letras. Usar expressões como “você nasceu do meu coração” ou “a cegonha errou de casa quando você nasceu” podem confundir a cabeça do seu pequeno, e pior, sugerir que existe algo errado sobre ser adotado.
É claro que nem sempre é fácil, principalmente quando somos pegos de surpresa. Não é incomum a criança fazer uma pergunta ou comentário em um momento inesperado. Afinal, mesmo pequena, está antenada em tudo o que se fala ao seu redor e absorve as informações como uma esponja.
Se de repente seu filho fala, na fila do supermercado, “mamãe, é verdade que eu não nasci da sua barriga?”, mesmo que não saiba o que fazer, é importante que sua reação são seja negativa e nem que ele seja repreendido. Nesse momento, o melhor é apelar para uma resposta que acolha a curiosidade enquanto ganha tempo para se preparar melhor, como: “ah, essa é uma conversa boa para a gente ter e a mamãe te explicar algumas coisas. Que tal se a gente conversar sobre isso quando chegar em casa/ depois do jantar/ depois do banho?”. E quando o momento chegar, lembre-se está nas suas mãos falar a verdade para o seu filho e dar a ele a chance de aceitar a sua própria história, sem traumas ou tabus.
Sobre Ana Luisa Bartholo:
É mãe por adoção da Gabriela e biológica da Beatriz. Formada em administração de empresas e com MBA pela Universidade de Chicago, dirige as atividades de marketing de uma instituição inglesa no Brasil. Ana frequentou e atuou como voluntária em grupos de apoio à adoção entre 2013 e 2018, até que em 2019 fundou, com mais quatro amigos, o Grupo Trilhar, que orienta pais e mães por adoção, através de reuniões mensais.
Sobre Ana Luisa Bartholo:
É mãe por adoção da Gabriela e biológica da Beatriz. Formada em administração de empresas e com MBA pela Universidade de Chicago, dirige as atividades de marketing de uma instituição inglesa no Brasil. Ana frequentou e atuou como voluntária em grupos de apoio à adoção entre 2013 e 2018, até que em 2019 fundou, com mais quatro amigos, o Grupo Trilhar, que orienta pais e mães por adoção, através de reuniões mensais.
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Atenção: Todas as informações são de responsabilidade dos organizadores do evento e estão sujeitas a modificações sem prévio aviso. As informações foram checadas pela equipe de reportagem do São Paulo para Crianças em 28/05/21. Antes de sair de casa, confirme os dados com o destino, para evitar imprevistos
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