Mãe de meia idade na pandemia

Moramos em São Paulo desde 2017 e o que mais gostávamos de fazer era ir a parques, museus, teatro, andar de bicicleta na Avenida Paulista, no Ibira ou no Villa Lobos, aproveitar toda a cultura da cidade e comer bem. A pandemia nos tirou as pequenas alegrias de fazer esses passeios que sempre amamos.

Passamos a maior parte do tempo, nesse último ano, trancados em casa, seguindo o isolamento social. Mas saímos algumas vezes quando a situação estava mais controlada. Fizemos alguns passeios ao ar livre em parques e estivemos em resorts perto de São Paulo duas vezes no ano passado. Sempre seguindo todos os protocolos. Foi necessário uma pausa para respirar.

Pode ser efeito da pandemia, mas acho que a crise da meia idade somada ao momento. Perder a liberdade de ir e vir. Perder as chances de encontrar os amigos. Perder pessoas queridas para o vírus.

Cansados de esperar a pandemia acabar, ela só piora. Hospitais lotam, mais gente morre. E a morte se aproxima cada vez mais das nossas vidas.

Os nossos filhos tiveram que abrir mão do olho no olho, do abraço, das brincadeiras com os amigos, pela tela. Cada um sozinho do seu lado. A necessidade do movimento. A repressão da necessidade de contato e socialização entre seus iguais. Descarregada na mãe, que é quem está ali tentando apoiar.

Uma força nos prende à nossa cama, amanhece e a vontade de levantar não vem. Mas a gente tem que trabalhar, liga o computador e entra em mais uma reunião de trabalho, lava louça, faz almoço, ajuda na questão de português. Reaprende raiz quadrada e potência. Resolve equação de matemática, mas não consegue resolver as questões da vida.

Para dar conta da carga, o psiquiatra aumenta a dose da medicação, inclui um remédio para ajudá-la a dormir. Esperando pelo dia que não vem.

E enquanto esse dia não chega a gente segue vivendo como passarinho na gaiola, perdendo a força das asas. Será que quando acabar ainda vamos saber voar?