Por Daya Lima
Criado em 25/02/22
Fotos: Reprodução / Divulgação
Célula fundamental da sociedade, a família desempenha um papel imprescindível na formação de cada pessoa que compõe esse grande tecido que é a comunidade humana. O seu potencial é enorme: sabemos a importância do papel que o ambiente em que vivemos a primeira infância desempenha ao longo de toda a nossa vida.
Daí a responsabilidade de cada mãe e pai. Levar a parentalidade no piloto automático, sem tomar plena consciência do que significa ser o responsável pelo desenvolvimento de uma criança, pode levar a uma falta de cuidado com o próprio comportamento – ainda que, inicialmente, isso apareça de modo muito sutil. Com isso, distorcem-se as relações entre pais e filhos, o que pode levar a problemas no desenvolvimento das crianças que elas carregarão consigo até a vida adulta.
Com a consultoria da psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz, a lista abaixo aponta alguns comportamentos tóxicos dos pais em relação aos filhos em que precisamos ficar de olho.
A missão do pai e da mãe pode em grande parte ser descrita como a de prover aos filhos o carinho de que necessitam para se desenvolver plenamente. O problema acontece quando essas necessidades se invertem. “Às vezes, os pais trazem consigo uma história de carência de atenção na infância e, quando têm filhos, usam essa situação para suprimir essa carência”, explica Ana Caroline.
Isso pode acontecer, por exemplo, nos primeiros meses da vida do bebê, quando a mulher, com a qual o bebê tem mais vínculo, se sente importante pelo papel que tem na vida da criança. Isso é normal, mas é preciso prestar atenção para não ultrapassar os limites de uma relação afetuosa saudável.
“De fato, a criança precisa muito da mãe. Mas dependendo da forma como a mãe vive isso, essa situação pode passar para a forma como se dá, de maneira geral, a relação entre a mãe e a criança. E aí a mãe passa a se colocar sempre como indispensável e a criança se torna insegura, sempre buscando a aprovação da mãe para tudo”, esclarece a psicóloga.
Sim, amamos os nossos filhos. Mas algumas frases que soltamos podem, sem que percebamos, dar a entender que colocamos esse amor entre parênteses, dependendo do comportamento da criança. Diante de atitudes que não aprovamos, é necessário evitar frases como “eu não gosto de você assim”, “desse jeito você me faz ficar triste”, “você é mal-educado”. Ana Caroline explica: “Essas são críticas que se dirigem à criança como um todo, em vez de apontarem para a ação específica que os pais não aprovam”.
“Os pais, através dessas frases, transmitem à criança a ideia de que ela só vai ser amada se fizer determinadas coisas”, diz a psicóloga. “É um perigo muito grande. Com isso, distorcemos o que é um relacionamento amoroso e ensinamos isso de forma errônea para a criança”. Isso repercutirá na forma como essa criança, já na juventude ou na vida adulta, vai se relacionar com outras pessoas, seja no âmbito da amizade, das relações conjugais ou mesmo com os próprios filhos.
Às vezes, exigimos que os filhos tragam apenas situações positivas e sentimentos correspondentes. Reprimimos as situações em que o filho traz medo, choro, tristeza ou raiva, como se isso não pudesse existir, em vez de ajudá-la a lidar com o sentimento. Com isso, a melhor coisa que podemos obter é que a criança deixará de confiar em nós, os pais, para se abrir a respeito desses sentimentos – porque sentimentos assim, sabemos muito bem, continuarão a surgir ao longo de toda a vida.
Desenvolver a autonomia, através da delegação de pequenas tarefas e da concessão de um espaço de liberdade de decisões na medida certa para cada idade, é muito importante para o desenvolvimento da criança. O problema é quando exigimos algo que a criança ainda não é capaz de dar conta. Estabelece-se uma expectativa que a criança não consegue acompanhar – e o resultado é a frustração para os pais e os filhos.
“Os pais podem ficar frustrados ou irritados quando pedem que a criança tenha alguma noção ou alguma habilidade motora da qual ainda não é capaz. E aí reclamam que precisam sempre repetir demais as ordens”, relata Ana Caroline. “Assim, os pais acabam focando mais nos déficits da criança do que nas suas habilidades”.
Sabe quando você está absorto em alguma atividade e o seu filho chama a sua atenção repetidas vezes, sem sucesso, e acaba sem conseguir se comunicar com você? É preciso se dar conta de que, quando esse cenário se torna uma rotina, isso repercutirá na forma como as crianças enxergam a si mesmas e às formas de comunicação entre as pessoas.
“A família é o lugar em que ensaiamos os primeiros relacionamentos e em que temos o exemplo de como um casal é e como se tratam. Amor, respeito, companheirismo, empatia: tudo isso eu aprendo na família”, explica a psicóloga. “Se tenho uma família que distorce essas compreensões, essa criança tem muita chance de repetir esses padrões e ter relacionamentos tóxicos ou ter dificuldade de vinculação ou se submeter a atitudes não saudáveis nos seus relacionamentos”.
Aquela carência de que falamos no ponto 1 pode estar em relação com um sentimento muito específico: o medo de perder o amor dos filhos. É claro que queremos que eles nos amem, mas esse sentimento de carência não pode guiar as nossas relações.
“Pais que sentem isso acabam fazendo de tudo para que a criança os ame. E esse ‘de tudo’ é perigoso, porque o entendemos de modo muito material”, alerta Ana Caroline. “Dou viagens, brinquedos, videogames, mas não promovo experiências. A criança acaba descontente, porque não tem um vínculo positivo com os pais a partir dessas vivências, e os pais acabam frustrados, porque não entendem por que o filho não valoriza o que lhe dão. Isso acaba desvirtuando o modo como a criança entende o que é importante num relacionamento – o que vai afetá-la no futuro”.
Essa fixação por se sentir amado pela criança pode levar a outro problema. Ana Caroline explica que pode acontecer uma inversão hierárquica na família. “Os filhos se tornam os reizinhos e os pais colocam nas mãos deles algumas decisões que não fazem parte da infância”, diz a psicóloga. Nesse cenário, são os filhos que escolhem desde coisas do dia a dia – como se vão tomar banho, se vão escovar os dentes, se vão comer e o que vão comer – até onde a família vai passar as férias.
“Isso pode acontecer quando há dificuldades financeiras e os pais não querem deixar de manter o padrão de vida que davam à criança”, pontua Ana Caroline, que explica ainda: “Quando dizemos que é preciso ouvir as crianças, não quer dizer que as famílias têm que fazer o que as crianças mandam. Trata-se de ouvir a opinião delas, entender como estão experimentando alguma situação e a partir daí explicar e orientar”.
A reclamação dos adolescentes, de que os pais os tratam como crianças, pode muitas vezes ter fundamento na realidade. “Ser pai e mãe de um bebê é uma coisa; há determinadas demandas e necessidades que é preciso dar conta. Já quando se trata de uma criancinha, surgem as vontades próprias, os gostos e desgostos e o começo da autonomia. Às vezes, então, os pais não conseguem se atualizar: continuam sendo pais de bebês”, relata Ana Caroline. “Imagina quando isso chega até a adolescência?”
“Assim como as crianças passam por essas mudanças de ciclos, os pais também precisam se renovar a cada ciclo. Se não fizerem isso, prendem a criança em um ciclo anterior. E aí vemos crianças de 8 anos com comportamentos infantilizados demais, que precisam do adulto para coisas que poderia fazer sozinhas, por exemplo”, explica a psicóloga. A formação da autonomia fica prejudicada – o que tem uma série de consequências.
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Atenção: Todas as informações são de responsabilidade dos organizadores do evento e estão sujeitas a modificações sem prévio aviso. As informações foram checadas pela equipe de reportagem do São Paulo para Crianças em 25/02/22. Antes de sair de casa, confirme os dados com o destino, para evitar imprevistos
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