Marcelo Amato
Criado em 18/08/21
A síndrome do pescoço de texto pode ser considerada uma síndrome emergente do século 21. Essa condição clínica é caracterizada por dor na região do pescoço devido ao uso errado e constante do celular e outros dispositivos eletrônicos portáteis. Além da dor no pescoço, pessoas com esta síndrome também podem apresentar sensação de ombros presos, dor na parte superior das costas e até um desvio do alinhamento da coluna, resultantes da postura dobrada para a frente. Estima-se que 75% da população mundial (inclusive as crianças!) tenha o hábito de fletir a cabeça para baixo para utilizar seus dispositivos móveis por várias horas ao dia. A flexão da cabeça e pescoço para olhar para baixo, ao ler e digitar, tensionam a coluna cervical podendo causar desgaste precoce das estruturas dessa região.
Isso acontece porque a percepção do peso da cabeça pela coluna cervical aumenta dramaticamente e progressivamente, quanto mais a cabeça é fletida para frente. A cabeça pesa em média 5 kg; ao fletir 15 graus para frente a tensão na coluna cervical dobra e, com 60 graus de flexão, o peso da cabeça para o pescoço chega a 27 kg1,2
Estima-se que crianças e adolescentes passem em média 5 a 7h por dia em seus celulares e outros dispositivos eletrônicos portáteis, com suas cabeças fletidas para frente para ler, digitar e jogar. Isso resulta em uma média de 1825 a 2555 horas por ano de estresse na região da coluna cervical. Sendo possível que um aluno do ensino médio passe outras 5000 horas por ano em postura inadequada 1,2.
Outras doenças podem causar dor cervical, como tumores, infecção, doenças inflamatórias ou congênitas. No entanto, na maioria dos casos, nenhuma doença é identificada, resultando na condição clínica denominada cervicalgia musculoesquelética. E, nesses casos, praticamente qualquer estrutura do pescoço pode ser a origem do problema: discos intervertebrais, ligamentos, músculos, articulações facetarias, raízes nervosas ou medula 1,2.
Foi realizado um estudo com 207 pacientes com menos de 18 anos, que procuraram atendimento em uma clínica no Líbano por causa de dor cervical. Pacientes com doenças congênitas, sistêmicas ou fraturas foram excluídos, ficando um total de 180 crianças e adolescentes com cervicalgia musculoesquelética inespecífica. Nesses pacientes, foi estudada a postura adotada para diversas atividades, e 100% apresentaram postura em flexão acentuada da coluna cervical e torácica ao estudar ou ao utilizar celulares e outros dispositivos eletrônicos. O que comprova que a postura inadequada é fator causal. Outros dados interessantes deste estudo é a associação com outros problemas de saúde relacionados à postura inadequada e uso prolongado de dispositivos eletrônicos, como outros problemas musculoesqueléticos, sintomas oculares, problemas sociais e psicológicos. Em 82% dos casos, os pais reportaram alterações psicológicas ou de comportamento de seus filhos, tais como irritabilidade, ansiedade e isolamento social 1. Crianças que usam mais do que 1-2h por dia de dispositivos tecnológicos, apresentam aumento de 60% em desordens psicológicas 3
Como vimos, a condição pode danificar seriamente estruturas importantes da coluna cervical causando, por exemplo deformidades, hérnias de disco e estenoses. O grande problema é quando essas alterações levam a compressão das estruturas nervosas como a medula ou as raízes nervosas. Felizmente hoje existem técnicas cirúrgicas minimamente invasivas capazes de resolver grande parte das complicações causadas pelas doenças da coluna, no entanto, nenhum procedimento é capaz de reverter a causa inicial do problema. O que significa que a investigação dá(s) causa(s) é essencial para um tratamento eficaz. A reeducação postural além de hábitos saudáveis de vida, como nutrição, exercícios físicos e sono adequado, costumam fazer parte do tratamento e da prevenção desses problemas.
Conclui-se que a dor cervical musculoesquelética é uma doença multifatorial comum em crianças e adolescentes, ou seja, inúmeros fatores de risco que contribuem para o seu aparecimento. Curvar a cabeça, pescoço e ombros sobre os telefones celulares e dispositivos eletrônicos, associada a postura distorcida do pescoço durante o estudo, quando sentado, ou assistindo TV, pode levar a aumento do stress na região cervical. Esse estresse pode levar a desgaste, degeneração e possivelmente cirurgias se não durante a infância ou adolescências, em estágios precoces da vida adulta. Talvez crianças e adolescentes não levem tão a sério os danos causados a seus corpos a longo prazo, porque os efeitos a curto prazo não são tão evidentes. Mas precisa ficar claro aos jovens, que são os principais usuários de celulares e tablets, que os danos colaterais da flexão errada e contínua do pescoço afetarão seriamente a qualidade de vida na fase adulta. Pode ser que esses jovens tenham um futuro com dor e incapacidade, ou ainda pior, redução da expectativa de vida 2. Outros problemas psicológicos, médicos, de desenvolvimento e sociais também são preocupantes. Sendo assim, é importante investigar a condição precocemente para entender os principais aspectos e fatores de risco envolvidos no desencadeamento dos sintomas, e desta forma conseguir fornecer o melhor tratamento possível. E, de uma forma geral, por ser praticamente impossível evitar esses hábitos que a tecnologia e a vida moderna nos trouxeram, os jovens devem se esforçar para praticar atividades com o pescoço neutro, evitando a flexão do pescoço na maior parte do dia.
Referências
Sobre Marcelo Amato:
Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo FMRP-USP (2004), realizou residência médica de neurocirurgia no Hospital das Clínicas da FMRP-USP, obteve título de especialista em neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e é especialista em cirurgia da coluna pela Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Título de Doutor em Neurocirurgia (Clínica Cirúrgica) pela Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Site: https://neurocirurgia.com
Facebook: https://www.facebook.com/drmarceloamato
Instagram: https://www.instagram.com/dr.marceloamato
Sobre Marcelo Amato:
Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo FMRP-USP (2004), realizou residência médica de neurocirurgia no Hospital das Clínicas da FMRP-USP, obteve título de especialista em neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e é especialista em cirurgia da coluna pela Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Título de Doutor em Neurocirurgia (Clínica Cirúrgica) pela Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
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Atenção: Todas as informações são de responsabilidade dos organizadores do evento e estão sujeitas a modificações sem prévio aviso. As informações foram checadas pela equipe de reportagem do São Paulo para Crianças em 18/08/21. Antes de sair de casa, confirme os dados com o destino, para evitar imprevistos
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