A partir desta quarta-feira, a Austrália dará um passo inédito na regulação digital: o país começará a proibir o acesso de menores de 16 anos a redes sociais como Instagram, Facebook, TikTok e YouTube. As plataformas serão obrigadas a implementar sistemas de verificação de idade mais rígidos e impedir que adolescentes burlem as regras.
O governo afirma que o objetivo é proteger crianças e jovens de conteúdos nocivos e dos efeitos negativos do modelo atual das redes sociais, que estimula tempo excessivo de tela, comparações, ansiedade e exposição precoce. Críticos, porém, dizem que a lei é falha, difícil de aplicar e pode criar novos riscos.
As empresas deverão adotar “medidas razoáveis” para impedir que menores de 16 anos acessem suas plataformas. Isso inclui múltiplas tecnologias de verificação de idade, como:
Análises biométricas
Documentos oficiais
Sistemas avançados de IA
Outro ponto importante é que a autodeclaração de idade não será aceita, prática comum hoje em aplicativos e sites.
As plataformas também terão que combater tentativas de fraude. Segundo o governo australiano, elas devem:
Evitar o uso de documentos falsificados,
Detectar deepfakes e identidades geradas por IA,
Impedir que jovens contornem bloqueios usando VPNs.
Apesar das críticas, algumas plataformas já estão se adequando. A Meta anunciou que começou a remover contas de usuários abaixo de 16 anos no Instagram, no Facebook e no Threads na Austrália. Os adolescentes afetados poderão baixar seu histórico antes do desligamento definitivo.
Com o bloqueio, muitos jovens planejam migrar para redes sociais menores que ainda não estão enquadradas pela lei, como:
Coverstar (vídeos)
Yope (fotos)
Lemon8 (estilo de vida), controlada pela ByteDance, dona do TikTok
O projeto também enfrentará batalhas legais. No fim de novembro, o Digital Freedom Project entrou com uma ação na Suprema Corte afirmando que a lei viola o direito de jovens à comunicação, especialmente em temas políticos.
A ministra das Comunicações, Anika Wells, respondeu que o governo “não será intimidado por ameaças legais” e que continuará priorizando a segurança de crianças em vez dos interesses das plataformas digitais.
Especialistas em tecnologia, privacidade e direitos digitais afirmam que a lei apresenta falhas importantes:
A medida não inclui jogos online, apps de relacionamento e serviços de inteligência artificial, que também possuem alto volume de usuários menores de idade.
Para verificar a idade, empresas precisarão armazenar dados sensíveis de milhões de usuários. Isso levanta preocupações sobre segurança e potenciais vazamentos.
O governo afirma que haverá “proteções fortes”, incluindo a obrigação de excluir os registros após cada verificação de idade.
A Austrália não está sozinha. No Brasil, a partir de março, entra em vigor a Lei Felca, conhecida como ECA Digital, que exige que contas de menores estejam vinculadas ao perfil de um adulto responsável. A norma busca aumentar a transparência e reduzir riscos para crianças e adolescentes.
A nova regra australiana faz parte de um debate que cresce rapidamente em todo o mundo: como proteger crianças em ambientes digitais sem comprometer liberdade, privacidade e acesso à informação?
Enquanto governos avançam em regulações, especialistas alertam que segurança online exige soluções mais amplas, incluindo educação digital, redesign das plataformas e supervisão ativa de responsáveis.