Ana Luisa Bartholo
Criado em 07/08/21
Toda criança ou adolescente que foi adotado sofreu ao menos uma ruptura. Não há exceção.
A separação da mãe biológica ou da família de origem é a ruptura mais brutal que uma criança ou adolescente pode sofrer, não importa em que idade, momento ou circunstâncias aconteça. Até mesmo um bebê recém-nascido, deixado na maternidade sob todos os cuidados e encaminhado para um abrigo imediatamente sofreu uma perda irreparável. Afinal, repentinamente seu mundo ‘conhecido’ pelos batimentos cardíacos e pela voz da genitora se foi para sempre, e o universo passou a ser uma completa incógnita, sem nenhuma alusão ao que era seguro até então.
A ruptura também acontece com uma criança maior que é retirada da família e acolhida até que sua vida seja definida. Apesar da inadequação de condições em que vivia, aquela era a única referência de família que ela tinha.
Não é incomum encontrar crianças em situação de abrigo que não entendem por que estão lá, por que foram retiradas de sua mãe e seu pai, ou pior, que se sentem culpadas por terem causado os problemas que as levaram para o abrigo. Em muitos casos, a quebra dessa ligação inicial com a família de origem tem consequências
devastadoras, como por exemplo a dificuldade de permitir que novos vínculos de afeto se formem.
Crianças que passaram por esse tipo de perda inconscientemente podem adotar comportamentos autodestrutivos e boicotar toda e qualquer tentativa de se entregar emocionalmente, deixando chegar ao ponto de serem devolvidas por famílias que tentaram as adotar. “Esse menino é um demônio. Desde que chegou na nossa vida, só tocou o terror. Colocou fogo na cozinha mexendo com o botijão de gás, tentou cortar o cabelo da colega de classe, foi expulso de duas escolas, me desafia o tempo todo. Juro que tentei de tudo, mas não tenho mais forças.” A família devolve a criança e ela volta para o abrigo. (Embora todos esses exemplos sejam reais, felizmente alguns dos pais por adoção que passaram por eles não devolveram as crianças).
Há ainda o caso dos que afirmam com todas as palavras que não querem ser adotados, mais comum entre adolescentes. Eles simplesmente não querem correr o risco de terem frustradas as expectativas de pertencer a uma nova família, pois sabem que as chances de um adolescente ser adotado no Brasil são ínfimas. Esses adolescentes estão, na verdade, tentando se proteger ao não ficar esperando por visitas de candidatos a adoção que nunca serão para eles, ou ainda, têm medo de se afeiçoarem por um novo pai ou mãe e serem devolvidos. E como a partir de uma certa idade, a opinião do adotando sobre seu desejo de ter uma nova família é considerada pelo juiz, esses adolescentes escolhem o caminho mais curto – mas não menos doloroso: o de nunca mais terem uma família.
Por essas e outras razões que os candidatos habilitados precisam estar preparados para um intenso recomeço, no sentido mais amplo que essa palavra possa ter. Isso não quer dizer que a chegada de um filho por adoção não seja também um começo em muitos sentidos, com diversas experiências vividas pela primeira vez por todos. Entretanto, é importante que os pais não percam de vista a importância de recomeçar. Seu filho precisará de novas chances para refazer caminhos que talvez já tenha percorrido no passado, ou mesmo para percorrer aqueles cuja oportunidade lhe foi negada antes. Nessa caminhada, é possível que surja regressão comportamental e a criança volte a ter atitudes já deixadas para trás, como chupar o dedo, fazer xixi na cama ou mesmo querer mamar.
Pode acontecer como foi com uma mãe por adoção cujo depoimento emocionante relatava a fixação que seu filho de 6 anos tinha pelos seios dela. Ao se investigar emocionalmente a questão mais a fundo, o que ele precisava era viver a experiência de mamar no peito. Ao conceder a seu filho de 6 anos essa experiência, da forma possível, essa mãe permitiu que ele ressignificasse a ligação entre mãe e filho que havia perdido anos antes.
O fato é que a partir do momento que o filho por adoção entra na vida dos pais, a sua história passa a ser a história dos pais também. A marca que essa criança traz possivelmente nunca desaparecerá, mas pode cicatrizar e deixar de doer com o passar do tempo, além de muito amor, compreensão e paciência. Por isso é tão importante oferecer a seu filho um recomeço genuíno. Está nas suas mãos ajudá-lo a deixar aquela ruptura tão dolorosa para trás e a se abrir para uma vida de novas possibilidades.
Você gostaria de sugerir um tema para ser abordado? Escreva para mim em [email protected] sobre a sua sugestão.
Sobre Ana Luisa Bartholo :
É mãe por adoção da Gabriela e biológica da Beatriz. Formada em administração de empresas e com MBA pela Universidade de Chicago, dirige as atividades de marketing de uma instituição inglesa no Brasil. Ana frequentou e atuou como voluntária em grupos de apoio à adoção entre 2013 e 2018, até que em 2019 fundou, com mais quatro amigos, o Grupo Trilhar, que orienta pais e mães por adoção, através de reuniões mensais.
Site: https://falecomgrupotrilha.wixsite.com/grupotrilhar
Telefone: (11) 96601-7004
Sobre Ana Luisa Bartholo :
É mãe por adoção da Gabriela e biológica da Beatriz. Formada em administração de empresas e com MBA pela Universidade de Chicago, dirige as atividades de marketing de uma instituição inglesa no Brasil. Ana frequentou e atuou como voluntária em grupos de apoio à adoção entre 2013 e 2018, até que em 2019 fundou, com mais quatro amigos, o Grupo Trilhar, que orienta pais e mães por adoção, através de reuniões mensais.
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Atenção: Todas as informações são de responsabilidade dos organizadores do evento e estão sujeitas a modificações sem prévio aviso. As informações foram checadas pela equipe de reportagem do São Paulo para Crianças em 07/08/21. Antes de sair de casa, confirme os dados com o destino, para evitar imprevistos
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